RIO — O branco, quem diria, vem perdendo lugar cativo como a cor mais básica da casa. E o bege também. Quem deixou as duas para trás e está ocupando o primeiro lugar nesse pódio é o cinza. No móvel, no piso e principalmente na parede, o tom — um intermediário entre o preto e o branco — já começa a ser a primeira opção entre muitos arquitetos e designers de interiores. E não vale associá-la à tristeza ou ao tempo sombrio. Na decoração, sabendo combinar, a cor pode deixar o ambiente vibrante.
Mas para alcançar o status de básica da vez, a característica mais festejada da cor é sua neutralidade e, logo, a capacidade de se misturar a praticamente qualquer outra. Para a arquiteta Sophia Galvão, em muitos casos, ela deve ser combinada com tons fortes.
— Apostar num ambiente monocromático, com diversos degradês de cinza, e jogar uma peça colorida é um recurso que gosto muito — conta.
Num projeto recente, um apartamento na Lagoa, ela fez exatamente isso: abusou de um degradê que vai do chumbo ao grafite, em diferentes texturas. Uma das paredes da sala foi coberta por um papel de parede de tramas da Orlean, enquanto as outras receberam tinta cinza claro. Uma chaise amarela cumpre o papel de contrastar.
O arquiteto Luiz Marinho foi além e escolheu o cinza para cobrir não apenas as paredes (com tinta) mas também o chão (com um revestimento que mistura partículas de cimento e madeira) de um quarto de casal.
O projeto de Luiz Marinho, feito com Mariana e Bruno Marinho, mostra que o branco pode virar coadjuvante do ambiente, formando uma bela dupla com o cinza. A cama com mesinhas de cabeceira acopladas, da loja Lacca, foi escolhida nessa cor.
— Tem mais um grande trunfo: ele dá uma profundidade ao espaço — acrescenta Luiz.
Foi um dos motivos que levaram os arquitetos Thiago Tavares e João Duayer a escolher o “cinza elefante" para um apartamento de 60 metros quadrados na Barra, que acabam de entregar. Mas eles dão uma dica: se não pintar a parede por inteiro, o efeito é ainda maior. A sugestão é “interromper” a pintura antes de encontrar o teto.
— Dessa forma, é como se o teto branco transbordasse parede abaixo, dando a sensação de ampliação do pé direito — explica Thiago. — E ainda deixa uma atmosfera de galeria.
De olho na tendência, as marcas de tinta já elaboram diversas nuances da cor, com toda sorte de nomes. O “cinza elefante” de Thiago e João, da Suvinil, é só um exemplo. A dupla Carolina Escada e Patrícia Landau preferiu o “urbano”, da Coral Dulux, para seu escritório, em Ipanema. As duas queriam dar destaque à escada e ao móvel vermelhão que toma conta de um dos ambientes do lugar. Para isso, pintaram a parede de cinza e cobriram o chão com pedras portuguesas que também têm um toque acinzentado.
Além das tintas, há um crescente mercado de revestimentos no tom. Para a cozinha, a arquiteta Leila Dionízios usou pastilhas de inox, da marca Santa Sofia — cobrem a parte em cima da pia, enquanto no restante do espaço entra o já queridinho cimento queimado.
A cor foi parar até no banheiro. E com muita classe. Um tecido de sarja, da JRJ, foi colado sobre a parede do lavado de um apartamento em Ipanema, assinado por Adriana Valle e Patricia Carvalho.
— É uma cor muito fácil de combinar, diferente do off white e do cáqui — diz Adriana. — Além de ser moderno, clean e elegante. Precisa de mais?
Fonte: Jornal O Globo